terça-feira, 25 de outubro de 2016

empada sem azeitona

eu também não sei quando parei. as pessoas me perguntavam se eu escrevia, eu respondia que sim, mas não sabia dizer exatamente o quê. eu nunca soube. escrever sempre foi algo natural por essas bandas. desde que eu descobri que era possível arrancar parte do peso que eu carregava dentro do meu peito ainda infantil, através da escrita, eu nunca mais parei.


que dizer, parei.
por uns tempos.
não sei exatamente quando,
não sei exatamente o motivo, mas parei.

era como se eu estivesse em suspenso. o peso nunca me abandonou por completo, é claro, mas eu era incapaz de verbalizar. eu não queria ver o tamanho do meu peso. porque quando você é uma pessoa dolorida que escreve, você consegue visualizar parte do que está acontecendo com você e começa a entender melhor. e, dessa vez, eu não queria.

eu não queria nada. que mané entender.
eu só ficar deitada, quieta, enrolada ao meu gato.

foi assim. por anos.
continua sendo, na verdade,
só que cada vez menos.

UÉ?

eu sei. as pessoas acham que encontrar a tampa da panela é remédio para mais variados tipos de pepinos que a gente acumula durante toda uma vida.

como são tolas, as pessoas.

eu me mudei para um país diferente, sem o meu gato, sem conhecer ninguém (ok, eu conhecia o meu agora marido), sem falar direito o idioma (continuo aprendendo) e com um histórico de ansiedade e depressão na bagagem. ansiedade e depressão. em um país diferente. com um companheiro que não entende o que é ansiedade e depressão.

AGORA TÁ TUDO BEM COM VOCÊ, NÉ?

como são tolas, as pessoas.

quatro anos depois de eu ter me mudado de São Paulo para o Rio, na tentativa de recomeçar, as coisas estão, sim, melhores. apesar de. (...) agora, medicada e mais informada, tenho mais controle sobre a minha doença. eu sei quais são os gatilhos que devo evitar. reconheço os meus limites.  também tenho consciência da quantidade de gente que eu machuquei nesses anos em que estive à flor da pele. e, sim, eu machuquei gente demais. eu era um trator desgovernado de energias ruins. bati mais do que apanhei. mostrei os dentes e as garras. eu me arrependo, é claro, mas eu precisava sobreviver. ou enlouqueceria.

sem escrever, eu certamente enlouqueceria.

mas não enlouqueci, apesar de.

vivendo e aprendendo a jogar, já diz a música. começa aqui outro blog. mais um. voltei.