segunda-feira, 15 de setembro de 2014

medo

acordei com medo hoje. pela primeira vez, em sete meses, acordei com medo de deixar a minha vida aqui. minha casa, meus amigos, minha mãe, minha família. os meus lugares, os meus bares, o lugar onde gosto de ir para encontrar a calma, a ponte rio-niterói, a estrada rio-são paulo, o sorriso do povo daqui, as minha comidas. sei lá, hoje acordei com medo. faltam alguns meses só. faltam 102 dias para o andy chegar. queria me sentir mais preparada, mais firme, mais segura, mais pronta.

então lembrei que nunca estamos prontos. lembrei que quando arrumei as malas para vir para cá, fazia só duas semanas que eu tinha deixado a clínica psiquiátrica do jabaquara. eu não tinha um dinheiro separado. eu não tinha casa. eu não tinha absolutamente nada. se eu tivesse ficado em são paulo, me preparando, me organizando, certamente, eu jamais teria vindo. teria ficado lá naquela casa de fundos, comendo até as minhas artérias explodirem, me iludindo com uma vida que jamais chegaria. eu não teria aguentado.

o rio de janeiro não me deu apenas uma sobrevida. o rio me fez perceber que eu posso carregar a vida com as minhas próprias mãos, que eu posso conseguir o que eu quiser. se não der certo com o andy, arrumo as malas e volto. eu não tenho problema com a volta. eu tenho problema em ficar, em criar raízes, em me tornar árvore. nasci com alma cigana. nasci para ser pirata, para lavar roupa no balde, para não ter o que comer em um dia e no dia seguinte gastar R50 em um café da manhã. a vida que eu escolhi para mim foi essa. a mim não me interessa uma carreira, um doutorado, reconhecimento, nada disso. embora não pareça, foi para a vida que eu fui feita e eu preciso reaprender a respirar constantemente para não me perder entre um pulsar e outro do coração. 

acordei com medo hoje.
lavei os olhos.
fui para a rua.
tomei sol.
e voltei.

reaprender a respirar se faz necessário, sempre.
não há o que temer quando se tem um coração que transborda coragem.
não há o que temer.